- Caramba!
Era noite de domingo e, no intervalo de um programa de debates sobre futebol na TV, Alberto chegou a gritar quando se deu conta do que estava acontecendo na sua casa. Angélica, antes linda, disposta e tão amável, tinha se tornado uma verdadeira bruxa com o passar dos anos. Andava pela casa sempre com um vestido velho, os cabelos despenteados e sujos, um humor horrível. Pouco abria a boca quando os dois estavam em casa. E, quando abria, era para reclamar de Alberto, dos parentes, dos vizinhos ou do emprego. Alberto, infeliz mas resignado, ouvia com atenção. Era melhor fingir que estava ouvindo alguma coisa do que ouvir, de verdade, os xingamentos que Angélica disparava quando o sentia indiferente a suas queixas.
Angélica tinha se transformado no que ele e os colegas de repartição pública chamavam de mulher mal-comida. Aliás, não se limitavam a deduzir como seria a vida sexual das colegas por causa de seu comportamento no trabalho. Eles costumavam ir mais longe, imaginar o dobrado que os pobres maridos deviam cortar em casa. E odiavam esses sujeitos que, por não comerem suas mulheres direito, mandavam verdadeiras feras para a repartição.
Foi então que Alberto se deu conta que, se Angélica hoje era um retrato fiel do que ele e seus amigos chamavam de mulher mal-comida, isso se devia à sua própria incompetência. Quis resolver o problema imediatamente, mesmo que isso o fizesse perder a última parte do programa de debates esportivos na TV.
A bruxa dormia ao seu lado, suando, o hálito começando a azedar. Tentou acariciá-la, ela virou para o lado. Quis abraçá-la, mas ela escapou. Como último e desesperado recurso, falou suavemente no ouvido de Angélica.
- Você não quer, querida?
- Sai pra lá, Alberto. Me deixa dormir.
Sentiu um alívio ao ver que a mulher não queria absolutamente nenhum contato com ele. Podia voltar a assistir sua TV sem a menor culpa. E pensar que, a partir de amanhã, os colegas de trabalho é que teriam que passar a semana inteira aguentando aquela bruxa.
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