Esperava ansiosamente o relógio marcar 18h45min naquela sexta-feira. Era, teoricamente, o horário em que saía do trabalho. Poucas vezes tinha conseguido. E em nenhuma delas tinha desejado tanto conseguir.
Saudade da mulher. Muita saudade. Andava trabalhando demais, muito cansado e com o humor estragado pela falta de dinheiro. Mas chegar em casa acalmava. Uma vez ele ouviu falar que, durante tempestades com muitos trovões, os fazendeiros colocavam uma ovelha junto com os cavalos no estábulo. Assim eles não ficavam muito furiosos.
Talvez ela fosse a ovelha dele.
Na verdade, era mais que isso. Era tudo que ele sempre quis e demorou muito tempo para encontrar. Era o seu chão. Não queria perdê-la, não queria perder um minuto do tempo que ele calculava que ainda tivessem para ficar juntos.
O trabalho era muito chato. Há anos ele fazia a mesma coisa. Às vezes mais, às vezes menos, mas sempre bastante. Nunca trabalhou pouco em nenhuma das empresas onde esteve. E, depois de conhecê-la, podia dizer que tinha trabalhado única e exclusivamente para deixá-la orgulhosa. Não queria nunca que a mulher o considerasse um vagabundo.
Despachar alguns documentos aqui, atender umas ligações ali. Uma sexta-feira tranquila.
Às 18h45min ele já estava no elevador. Foi pra casa e encontrou a mulher, a filha mais nova e o neto. Era bom ter uma família em casa. Café, Jornal Nacional, novela, um filme qualquer na TV. O neto e a filha dormiram cedo. Ele e a mulher ficaram acordados até tarde.
A vida assim, tão simples e sem grandes ambições, pode ser muito boa. Pelo menos foi o que ele pensou quando deitou ao lado da mulher e dormiu da mesma maneira que dormia desde que casaram, fazia mais de trinta anos.
Tranquilo. Muito tranquilo.
Um comentário:
Adoro este texto.
É de uma beleza ímpar!
A mais verdadeira essência do amor.
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