A luta começou mal. O outro cara é mais forte e um pouco mais alto que eu.
Começa batendo firme mas os golpes explodem na minha guarda. Já lutei muito
antes e sei que todos os lutadores fazem isso pra tentar intimidar o adversário.
Eu devia ter feito o mesmo, mas o cara parece uma máquina de dar porrada.
Meu treinador grita pra eu me mexer, pra não ficar parado na frente dele. É isso
que eu tento fazer, mas o sujeito não para de tentar me acertar. Vou para o meio
do ringue e deixo ele girar. Vou fazer o que sempre fiz de melhor. Vou me
esquivar e bater na hora certa. Ganhei todas as lutas que fiz até hoje desse
jeito, o velho que fique puto nos próximos três minutos e que fale alguma coisa
que se aproveite no intervalo.
Um jab e eu escapo. O outro vem tão rápido que me acerta quando tô voltando. E
junto vem um direto que parece de peso-pesado. Se o árbitro não tivesse
conferido as luvas, eu ia achar que esse cara guardou uma ferradura ali.
Solto um jab e o cara nem se defende. Deixa eu acertar e não se abala. Ainda ri
da minha cara pra dizer que não sentiu nada. Os poucos que vieram ver a luta se
divertem com isso e o árbitro, que quer mais que essa luta acabe de uma vez, não
diz nada. Tento um cruzado, ele desvia e solta uma sequência rápida e dolorida
na minha cara: um jab que acerta a testa e empurra, um direto no nariz que enche
mais olhos de lágrimas e um cruzado que acerta o queixo e faz toda a minha
cabeça chacoalhar. As malditas bolinhas pretas aparecem na frente dos meus olhos
e eu me agarro rápido pra não apanhar mais. O árbitro tenta separar mas eu
continuo agarrado no cara até as bolinhas pretas desaparecerem. Quando eu solto
um pouco o cara, ele me empurra e vem pra cima de novo.
Tem uma hora numa luta em que a gente não pensa em fazer nada. Só quer que o
tempo passe pra ir pro canto e sentar um pouco, tentar imaginar um jeito de
acertar o cara. Mas ainda falta muito tempo pra isso acontecer.
O sujeito continua vindo pra cima. Solta um jab e consigo esquivar. Tento
devolver um cruzado e erro. Não sei como se vê de fora do ringue, mas parece que
eu tô em câmera lenta e ele tá acelerado. Mais golpes pra cima de mim e a minha
esquiva, que sempre foi o meu forte, parece que não funciona muito bem. Saio
para um lado e ele me acerta, saio para o outro e ele acerta também. Não sei se
o cara se dá conta, mas eu tô apavorado. Fujo e acabo preso no canto. Agora só
tenho minha esquiva pra me salvar.
Quem tá fora do ringue acha que a gente não pensa lá em cima. Bobagem, a gente
pensa muito. Enquanto o cara bate com força, fico me lembrando da noite de
ontem. Eu não devia ter saído de casa pra passar a noite com a Maria. Aquela
neguinha nunca consegue me dar só uma vez. Quando cheguei na casa dela, disse
que não podia trepar muito. Mas é muito mais fácil aguentar esse cara me dando
porrada do que comer a Maria só uma vez. Só agora, que minha esquiva não tá
funcionando, é que eu vi que devia me controlar.
Mas é foda, muito foda, resistir aos golpes da Maria. Depois que a gente transou
uma vez, ela ficou toda manhosa do meu lado. Falou que nunca na vida tinha
conhecido um cara como eu, mas que eu era muito mau com ela, que ficava toda
linda me esperando pra trepar só uma vez. Disse que desse jeito não ia me querer
mais, que eu preferia ficar me agarrando e correndo atrás de um sujeito suado do
que transar com ela.
O fígado é meu fraco. E o filho da puta bate tão forte nele que dá vontade de
cair só pra não levar outra pancada dessas. Tento me encolher pra caber dentro
da guarda, mas parece que meus braços encurtaram. Protejo o tronco e o cara bate
na minha cabeça. Nem tento esquivar mais, porque minhas costas e minhas pernas
estão doloridas demais por causa da foda com a Maria.
Eu errei. Eu errei muito. Tinha que ter comido a neguinha uma vez só e saído
fora. Mas não, deixei ela me pagar um boquete. E o boquete da Maria vale lutar
um pouco mais cansado. Pedi pra ela parar, pelo amor de Deus, mas ela foi até o
fim. Eu não queria gozar, mas ninguém faz a Maria parar quando ela tá se
divertindo.
Acho que esse cara deve ser parente da Maria. Porque ele tá me fodendo com essas
porradas e deve estar se divertindo muito. Ele não parou de me bater desde que
tocou a sineta. Minhas pernas ficam fracas como quando eu trepo com a Maria. Uma
delas dobra e meu joelho encosta no chão. Fico olhando pra baixo e ouvindo a
contagem. Será que o sangue aqui no canto do ringue é meu?
Levanto no oito e volto pra luta. Voltei pra luta com a Maria depois dela me
derrubar duas vezes ontem, não é esse cara que vai me deixar no chão de uma vez
só. Mas depois de ter gozado duas vezes, bem que eu podia ter ido embora da casa
dela. Talvez eu conseguisse pelo menos me esquivar quando esse filho da puta
larga os golpes.
Boxe não combina com muita foda. O meu treinador sempre me diz isso um dia antes
da luta. Mike Tyson devia foder muito, por isso jogou tudo fora. Mas também não
dá pra pensar assim. O Maguila ficava um tempão sem comer a mulher antes das
lutas e perdeu um monte de vezes.
Meu olho esquerdo já tá fechado. E o cara cruza de direita porque sabe que eu
não vou ter tempo de ver direito pra me esquivar. Mas se meu olho não estivesse
fechado eu não ia conseguir me esquivar também. Não depois de ter comido a Maria
três vezes ontem à noite.
Quando toca a sineta eu não sei pra que lado ir. Meu treinador corre pra cima do
ringue e me carrega até o banco. Ele grita comigo, joga água na minha cara,
passa vaselina no corte do supercílio esquerdo. Eu não entendo nada. Tô sentindo
a mesma moleza que senti depois que comi a Maria pela terceira vez ontem. Eu
achava que não ia nem conseguir ficar de pau duro de novo, mas ela começou a se
esfregar em mim. Começou a esfregar aquele rabo enorme e durinho em mim. Eu pedi
pra ela parar, mas ela disse que eu era muito burro, que vivia pedindo pra botar
atrás e, bem no dia que ela resolveu me dar, eu não queria. Porra, meu maior
tesão era comer o rabo daquela neguinha. E eu achava que o cara que ia lutar
comigo hoje não ia fazer essa frente. Meu pau ficou duro na hora e eu comi
aquele rabo com muita vontade.
A sineta toca de novo e eu sei exatamente o que tenho que fazer. Tenho que me
esquivar e bater, me esquivar e bater, bater e fugir, bater e rodar. Eu tenho
que fazer com esse cara o que eu fiz com a Maria. Tenho que comer o cu dele.
Ele vem pra cima. Larga um golpe, eu esquivo e tento bater. Mas ele continua
batendo e vai me acertando. É mais difícil controlar esse cara do que a Maria.
Pelo menos depois da terceira foda, ela apagou do meu lado. Esse cara não para
nunca. Os golpes vão acertando tudo: o nariz, o fígado, o estômago e,
finalmente, o queixo. Minha esquiva, que sempre foi minha melhor arma, não
funcionou hoje. Se eu não tivesse comido a Maria ontem pode ser que essa luta
não fosse tão ruim. Se eu não tivesse comido a Maria ontem pode ser que eu ainda
estivesse em pé agora.
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