Nunca vou esquecer a madrugada em que o meu moleque resolveu nascer. Faltavam quase dois meses pra fechar as quarenta semanas, mas ele já vinha tentando sair desde o sexto mês.
Era madrugada e a mãe dele acordou sentindo dores e coisa e tal. A gente correu para um hospital pensando em fazer um exame mas não tinha mais como segurar o moleque. Ele nasceu magro, pequeno e muito feio. Mas compensou tudo isso com o dia em que resolveu nascer e o signo. 2 de fevereiro, dia da padroeira de Porto Alegre. Aquário com ascendente em aquário. Era 97, eu tinha 25 anos e a certeza de que o Pedro seria um sujeito especial.
Até aquele dia eu nunca tinha dado colo para um recém-nascido. Mas o moleque se acomdou no meu colo e foi legal. Hoje ele é um cara enorme, mas continua se encaixando no meu braço quando está dormindo, cansado ou machucado. Quando ele tiver trinta anos eu acho que não vou mais poder dar colo como hoje, mas sei que ele vai continuar contando comigo sempre que precisar.
Aprendi um monte de coisas com e por causa do Pedro. Tipo fazer umas comidas, ler histórias infantis, inventar histórias infantis, brincar de carrinho, dinossauro, luta, espada, pega-pega e todas as outras coisas que a gente desaprende quando cresce. E acho que, reaprendendo as coisas de criança, consegui ser mais adulto. É uma dívida que tenho com o moleque.
Os últimos seis anos foram muito bons pra mim graças ao Pedro, apesar de muitas dificuldades e inseguranças. E acho que, na relação dele comigo, os primeiros seis anos dele também foram do caralho. Ele conheceu bandas de rock, histórias legais como a do Zumbi dos Palmares, aprendeu como é que se faz "tatuagem de agulha", desenhou tatuagens que estão nos meus braços, ganhou alguns brinquedos legais e deixou de ganhar outros tantos.
Apesar de não querer usar o "um texto por dia" para escrever nada que seja de verdade, como o meu filho vai morar em outra cidade, resolvi escrever sobre ele. Um texto pra ele guardar e saber como é importante na minha vida, mesmo que às vezes o lance de ser pai seja realmente difícil e eu pense "meu Deus, eu não consigo, eu quero desistir".
Meu moleque vai pra uma cidade maior, onde o aniversário dele não vai cair no dia do padroeiro da cidade e nunca mais vai ser feriado (olha a vantagem, os amiguinhos dele não vão estar fazendo feriadão na praia). Meu moleque vai para uma cidade onde ser aquário com ascendente aquário talvez não seja uma qualidade. Meu moleque vai para uma cidade que vai fazer a nossa querida Porto Alegre ficar pequena e sem graça demais. Meu moleque vai pra São Paulo.
Eu quero que ele seja feliz. O mais feliz que alguém pode ser morando em São Paulo. E que a gente consiga se ver, trocar correspondências, conversar por telefone e continuar sendo como somos: amigos, irmãos, parceiros, rivais, todos esses lados que só uma relação muito legal pode ter.
Vai, moleque. Todo mundo diz que a gente cria os filhos para o mundo. Acho que podia fazer mais por ti antes de te entregar pra ele. Mas acho, também, que não tem muita gente por aí que seja tão legal quanto tu.
E como eu sempre digo, não esquece que o pai te ama.
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