terça-feira, 13 de julho de 2010

O sapo malhado e a girafa curiosa (umtextopordia.blogspot.com)

Nos últimos dias, tenho dificuldades para escrever. É só arrumar o papel na máquina que um deles aparece. Um dia é o sapo malhado, no outro, a girafa curiosa.

O sapo malhado é metido a chefe. Ele sempre vem com uma conversa estranha. Gosta de termos em inglês e de coachar piadas que ninguém entende. Ou entende e não acha a menor graça, o que dá no mesmo.

Meus colegas de trabalho não sentem tanto nojo do sapo malhado quanto eu. Talvez até sintam, mas como acreditam que ele é chefe, conseguem disfarçar melhor. Um deles até aperta a mão e bate nas costas dele.

Invariavelmente, quando o sapo malhado sai da sala, não consigo escrever nada além de uma frase:

Eu odeio o sapo malhado.

Felizmente, o sapo vai coachar em outra lagoa um dia sim, outro não. O problema é que o papel de nos incomodar fica para a girafa curiosa. Essa criatura é mais desprezível do que o sapo malhado. É que ela é uma espécie de encarregada de tocar os escravos quando o sapo não está. E, talvez pela irracionalidade comum aos animais, ela consiga ser mais má, mais chata e mais nojenta que o chefe.

Quando a gente olha para uma foto de um sapo e de uma girafa, pensa que isso é impossível. Mas basta ser escravo dos dois pra saber que não.

O método de aproximação da girafa, ao contrário do utilizado pelo sapo, é mais idiota. Enquanto o sapo se aproxima falando em inglês e fazendo piadas sem graça, a girafa chega fazendo voz de criança e espiando por cima do ombro dos outros. Em comum, só a estupidez de acreditar que os escravos não desconfiam que eles estão conferindo o trabalho.

O sapo, que é chefe, nunca fala o que vê nos fazendo no horário de trabalho. A girafa, que não tem autonomia nenhuma, conta tudo que vê para o sapo.

Foi por isso que eu acabei demitido.

Um dia, depois de ver muitas folhas em branco, a girafa reparou que havia alguma coisa escrita na folha. Esticou o pescoço daqui e dali e leu o que não queria.

Eu penso, sim. Vocês acham que.

Quando o sapo chegou de sua viagem, me chamou na casa grande, deu as 10 chibatas do salário proporcional aos dias trabalhados e disse que eu não precisava voltar no outro dia.

Continuo procurando um lugar pra trabalhar outra vez. Mas sempre que vejo um sapo ou uma girafa, podem até me oferecer mais chibatas do que no meu trabalho anterior. Mesmo assim, eu nem considero a proposta.

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