Por que o chefe sempre é um idiota? Por que o pessoal do financeiro tem que ser sempre antipático pra caralho? Por que o salário é tão pequeno?
Todos os dias, quando ia para o trabalho, Renato repetia essas perguntas. Dois ônibus, uma hora e cinco minutos e as mesmas três perguntas. Nem as minas gostosas que subiam o ônibus conseguiam tirá-lo de seus questionamentos. Tinha plena consciência de que era pequeno demais pra lutar contra o chefe e o pessoal do financeiro. O salário era só uma consequência dessa condição.
Já que não podia vencê-los, resolveu confundir. Tinha que escolher muito bem o alvo, atacar de surpresa e escapar. Tinha que criar confusão, desestabilizar o inimigo.
Um dia, enquanto cagava no banheiro da empresa, repetia as mesmas três perguntas e pensava em como seria a sua ação, reparou em dois vasos de plantas que ficavam ali e teve a idéia: mijaria naquelas merdas de vasos até secar as plantinhas.
Primeiro, ele passou a cuidar as idas da tia da limpeza ao banheiro. Sempre que ela saía, ele entrava. Queria descobrir quando ela regava as plantinhas e com que periodicidade. Queria saber quando a terra estaria molhada pra dar o jato de mijo sem despertar suspeitas.
Depois de descobrir os dias e horários em que as plantas eram regadas, Renato partiu para a guerrilha. Chegava cedo e começava a beber água. Quando a tia saía do banheiro ele atacava.
Quando as duas primeiras plantas secaram, houve comoção na empresa. A gerente financeira, responsável pela compra das plantas, ficou furiosa. Primeiro culpou a tia da limpeza. Mas como os colegas falaram do carinho com que ela cuidava das plantas, desistiu de tomar uma atitude mais enérgica.
A cada semana, novas plantas chegavam ao banheiro e secavam. Pelos cálculos de Renato, já gastavam mais dinheiro com plantas do que para pagar o seu salário. Em determinado momento, chegaram a desconfiar de olho-gordo ou trabalho de umbanda. Contrataram um pai de santo, que benzeu toda a empresa. Mas como não era nada espiritual, as plantas continuaram morrendo.
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