Futebol é muito mais do que o jogo, os 90 minutos, o que você vê. É algo que você sente. Eu tinha seis anos num domingo de 1977. Não lembro o dia, nem a estação, mas acho que não era frio. Era um domingo de Gre-Nal, como hoje, com a vantagem de ser final de campeonato. E meu pai ia me levar ao jogo. Como ele tinha cadeiras no Olímpico, não precisava chegar tão cedo e nem tinha muito atropelo, acho que a gente deve ter esperado uma hora pelo início do jogo.
Com seis anos, não preciso dizer que eu não era um observador muito atento do espetáculo. Ficava mais ligado nos sucos de laranja, cachorros-quentes, amendoins, salgadinhos, nos meus próprios pensamentos sobre forte-apache e desenho animado. Mas olhava o jogo nesse meio tempo. Gostava de ver gols, de gritar Grêêêêêêêê-mio e de chamar o juiz de filhodaputa.
Não lembro de nada da final do Gauchão de 77: só lembro do gol do Grêmio. Ou melhor, da comemoração. Depois de marcar o gol que ia acabar com 8 anos sem ganhar campeonato, André Catimba deu um mortal. O foda é que ele teve uma distensão quando saltou. Na minha memória de guri de seis anos, foi aquilo que ficou: o sujeito voando muito alto, mexendo as pernas e depois se arrebentando no chão enquanto todo mundo gritava e pulava e abraçava o sujeito do lado, mesmo que ele fosse alguém que nunca tivesse visto mais gordo. A lembrança desse momento é tão intensa, mas tão intensa, que parece ter duas horas.
O André Catimba saiu do jogo de maca depois do gol. Fiquei olhando até ele entrar no túnel. Tinha esquecido do jogo. Fiquei vendo aquele sujeito que voou tão alto, tipo personagem de desenho animado, sair carregado de campo. E lembro da festa quando o jogo acabou, o Grêmio campeão depois de oito anos de espera (felizmente, eu só tive que esperar seis). A galera invadindo o campo e eu pedindo pro meu pai pra gente entrar também. Ele disse que eu ainda era muito pequeno pra isso e me levou pra casa. E foi um dos melhores dias da minha vida.
Sorte hoje, Grêmio. Pena que eu não vou poder ver esse jogo.
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