terça-feira, 13 de julho de 2010

Pênalti (umtextopordia.blogspot.com)

A gente estava perdendo o jogo até o centroavante ser derrubado na área. Como o jogo não era num campo de vila, o juiz marcou sem medo de apanhar na saída. Pode ser no Maracanã ou na várzea, jogo de campeonato ou só uma partidinha numa manhã de sábado: quando o juiz marca pênalti, todo mundo corre pra cima e reclama. Apesar disso, não existe registro na história do futebol de um juiz que tenha desmarcado a penalidade. Pode até já ter acontecido, mas eu nunca ouvi.

O nosso time é esforçado. Tem quem jogue bem, tem quem não jogue grande coisa, mas todo mundo corre. E todo mundo gosta de fazer gol. Só que na hora de bater um pênalti num jogo complicado como este, ninguém se apresenta.

Eu não tenho medo. Nunca tive.

Quando o juiz apitou, eu já sabia que o destino do time ia estar no meu pé direito.

Jogador profissional treina pra cobrar pênalti e, mesmo assim, erra de vez em quando. Eu só jogo no sábado, trabalho muito durante a semana, nunca treino e nunca errei. Desde guri eu batia pênalti. Sei como correr pra bola sem deixar o goleiro saber pra onde vou chutar, bato em qualquer canto, consigo esperar o goleiro se mexer pra colocar a bola no lado contrário.

Mas hoje eu não tô muito seguro.

Parece que todo mundo tá olhando pra mim. As poucas pessoas em volta do campo não estão acreditando que eu vá guardar. Eu não consigo escolher o canto, a concentração escapa.

A bola tá na marca. O juiz apita. Não vou inventar.

Respiro, escolho o canto, imagino a batida, a bola entrando, meus parceiros gritando e me abraçando. O goleiro se mexe, fala demais. Corro pra bola e bato de leve nela, porque não sou ignorante.

Eu nunca errei um pênalti antes.

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